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sexta-feira, 21 de março de 2014

O que é o dom de línguas em Atos dos apóstolos

A NATUREZA PROFÉTICA  E INSPIRADA DAS LÍNGUAS EM 
ATOS 2:4

Prof. Moisés Bezerril

Atos 2:4 “E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.

         O livro de Atos tem sido muito utilizado pelos mais variados movimentos religiosos como um livro normativo. De fato existem muitas verdades normativas em Atos para a igreja moderna, mas esse não é o propósito primordial de Lucas, (At 1:1-2). O livro é, por natureza, histórico, e deve ser interpretado observando-se esse detalhe muito mais do que qualquer outro.
         Em tratando-se da questão pentecostal moderna, sobre a natureza das línguas faladas pelos pentecostais dos nossos dias, podemos dizer que, o movimento pentecostal dos dias atuais pratica um tipo de língua que não corresponde ao fenômeno de Atos 2:4, pelas seguintes razões:

1) As línguas de Atos 2 foi um fenômeno histórico com datas já previstas e profetizadas para seu cumprimento.
         A implicação dessa verdade é que, um evento que tem cumprimento atrelado a uma promessa jamais poderá fornecer argumentos em prol de sua repetição. Ainda mais, não há nenhuma outra promessa para a continuação do fenômeno na igreja, além da era apostólica (Atos 2, 10, 19). Não há nenhum mandamento quanto a sua continuidade. É impressionante como as línguas só ocorrem em Corinto  em forma  de uma anomalia que o apóstolo precisou corrigir e desestimular os crentes de Corinto naquela prática; também de ensinou-lhes que em pouco tempo aquele dom não teria mais lugar entre eles. Este meu argumento pode ser provado pelo fato de que nas epístolas tardias de Paulo (I, II, Timóteo, Tito) Paulo ordena Timóteo a se esmerar na leitura e estudo da Palavra escrita. Nada mais é dito sobre línguas e profecia. As primeiras epístolas de Paulo (Tessalonicenses, e Coríntios) continham informações sobre línguas (I Coríntios) e profecia (Tessalonicenses) porque pertenciam aos primórdios da era apostólica ainda. Depois dos anos 70 esses dons parecem ter terminado na igreja. Não há nenhuma indicação de que tais dons fossem algo comum em todas as igrejas. É importante lembrar que as igrejas das páginas do Novo Testamento são todas da era apostólica. Não é correto, portanto, interpretar qualquer dom de Corinto à luz do acontece hoje nas igrejas moderna. Sendo assim, as línguas de Atos são um elemento puramente histórico.

2) A natureza do “falar em línguas” é a mesma natureza profética dos dias do Antigo Testamento.
         Ninguém questiona que os profetas do Antigo Testamento falaram inspirados por Deus. Aqueles profetas eram considerados “a boca” de Deus. Na inauguração da nova aliança Deus promete as mesmas credenciais da aliança do Antigo Testamento. Quando Pedro foi interrogado sobre o que estava acontecendo no dia de Pentecostes, ele atribuiu o dom de línguas ao profetismo do Antigo Testamento se utilizando da profecia de Joel 2:28-32. É intrigante porque nessa profecia não há referência à línguas; mas Pedro na verdade, queria dizer que naquele dia Deus estava inaugurando uma aliança com profetismo igual ao profetismo do Antigo Testamento. Isso serviu para mostrar que a aliança ainda era a mesma feita com o antigo Israel; que tinha valor profético porque era Deus falando e chamando quem não era povo para ser povo seu. Como Deus falou nos dias da antiga aliança, assim ele também falou na inauguração da nova aliança. Essa é a razão porque Lucas emprega a expressão “conforme o Espírito concedia que falassem” em Atos 2:4. É interessante notar que quem fala no Antigo Testamento é Deus por meio de seus profetas, e quem fala no Novo Testamento é o Espírito por meio dos apóstolos e profetas. Isto foi profetizado pelo próprio Jesus em João 16:13, o Espírito falará tudo.
         No texto grego de Atos 2:4 há o emprego de dois termos para o verbo “falar”: “passaram a falar  (lalein), noutras línguas segundo o Espírito lhes concedia que falassem (apofqeggesqai). Alguns têm advogado que não há diferença entre estes termos, e que os mesmos são sinônimos, podendo ser traduzidos apenas por “falar”, mas, a verdade é que a intenção de Lucas não é esta, levando em conta que o evangelista só emprega o termo apofqeggesqai no livro de Atos para os sermões inspirados de Pedro e Paulo, quando esses dois apóstolos são tomados pelo Espírito para profetizar a revelação de Deus ao mundo gentílico, (At 2:14; 26:25). Além do mais, fora de Atos, o termo não é encontrado em outra literatura bíblica; este termo foi emprestado da literatura pagã, o qual era empregado para referir-se à fala dos deuses, ou oráculos das divindades. Este termo era empregado quando se entendia que um deus estava falando por meio de um profeta. Assim, o termo passou a ser empregado no Novo Testamento com o significado de “falar oráculos divinos”, “falar inspiradamente”. A ênfase oracular do termo pode ser notada em Lucas por três simples razões: a) ele emprega propositadamente dois verbos diferentes para “falar”, quando deveria usar apenas um se não quisesse fazer distinção de significados; b) emprega o mesmo termo para os sermões proféticos inspirados de Pedro e Paulo; c) aplica o verbo lalein para homens, e apofqeggesqai para o Espírito. Percebendo estes detalhes, pode-se entender que, em Atos 2:4, Lucas atribui aos homens o falar mecânico, como puro ato de falar; e atribui a fala do Espírito como “oráculos”, ou “profecia inspirada”.
         Uma regra básica para qualquer definição das línguas é aceitar o fato de que nas línguas de Atos 2 quem fala é o Espírito. Não há qualquer indicação no Novo Testamento que o dom de línguas não seja o mover do Espírito de Deus para trazer revelação, profecia, conhecimento, e ensino para a igreja apostólica antes da formação do corpo doutrinário escriturado no Novo Testamento, (I Co 14:6). Isso significa que o conhecimento quer temos hoje das doutrinas do Novo Testamento de maneira inspirada e autoritativa, aqueles irmãos da era apostólica o tinham por meio das línguas, de maneira inspirada e autoritativa porque era o Espírito quem lhes falava. O Espírito de Deus só fala inspiradamente, e o que ele fala vira Bíblia.

3) O conteúdo das línguas corresponde ao mesmo conteúdo profético nos moldes do Antigo Testamento.
         A principal razão para Lucas atribuir o verbo a)pofqeggesqai ao Espírito é a sua concepção de que nas línguas o homem apenas transmite (lalein) aquilo que o Espírito fala, (apofqeggesqai). Uma boa indicação desta verdade é o fato de Lucas usar a velha fórmula profética do Antigo Testamento, “falou o Espírito por meio de”, o que pode ser incontestavelmente percebido na expressão grega kaqwV to pneuma edidou apofqeggesqai. A palavrinha mais importante desta expressão é  kaqwV (“conforme”). Este advérbio é usado para indicar como causa ou razão o que vem depois dele. Assim, kaqwV to pneuma é uma expressão para indicar que o Espírito é a causa da “fala”. Era exatamente isto o que acontecia com os profetas inspirados do Antigo e Novo Testamento: eles eram tomados pelo Espírito apenas como porta-vozes, pois quem de fato falava era o Espírito,( veja I Pedro 1:21). Essa é a única razão pela qual Lucas emprega dois verbos distintos para o termo “falar” em Atos 2:4. Conclui-se com isso, pois, que os discípulos não falaram em línguas o que quiseram, mas falaram o que o Espírito dava edidou para eles falarem. Isto significa que os discípulos não falaram “influenciados pelo Espírito”, ou “no Espírito”, mas foram canais proféticos da “fala do Espírito”.






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