O
ASPECTO TEMPORÁRIO DO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
Prof. Moisés C. Bezerril
Introdução
A questão de grande importância que deve-se abordar
quanto ao batismo com o Espírito Santo é sua função na igreja cristã primitiva,
e o significado teológico da expressão “batismo com Espírito Santo” para a
igreja moderna.
Normalmente as pessoas deixam de perceber que a expressão
“batismo com o Espírito Santo” também aplica-se a dimensões e significados
específicos para a era apostólica que não estão mais presentes hoje na igreja.
Essa falta de conhecimento sobre o assunto tem feito surgir vários movimentos
chamados pentecostais que reivindicam a mesma natureza apostólica do batismo
com o Espírito Santo para hoje. Neste trabalho pretendo mostrar que o batismo
com o Espírito Santo tem quatro significados teológicos, sendo três deles
específicos para a era apostólica, e um para os nossos dias. São eles os
seguintes: 1. incluir
espiritualmente todos os crentes no corpo de cristo por meio da fé, 2. capacitar os apóstolos, pelo poder
do alto, com credenciais apostólicas; 3. incluir visivelmente gentios no
pacto abraâmico por meio de línguas e profecia, 4.
incluir samaritanos distintamente de todos os outros povos na aliança
abraâmica. Destes quatro significados básicos, o 2, 3, e 4 foram apenas para a
era apostólica, não aplicando-se mais aos dias de hoje; enquanto que o
significado 3 é o que a igreja vive hoje em dia. Assim , os
significados 2, 3, e 4 correspondem ao
aspecto temporário do batismo com o Espírito Santo.
PROLEGÓMENOS
O
sentido mais amplo do batismo com o Espírito Santo no Novo Testamento é o de
confirmar a entrada de estrangeiros como
povo de Deus na aliança abraâmica. Como o batismo com o Espírito Santo tem
função primária de introduzir espiritualmente indivíduos no corpo de Cristo, um
grande problema estaria para acontecer quando judeus e gentios fossem
contemplados dentro de uma mesma aliança.
Desde os dias do Antigo Testamento Deus já havia prometido fazer de
Abraão uma bênção para “todas as nações”, (Gn 12:3). Paulo afirma que essa
promessa feita a Abraão, também chamada de bênção de Abraão, era o Espírito prometido. A história
registrada em Atos é também a história dos gentios recebendo a bênção de
Abraão: o Espírito Santo, (Gl 3:14). Deus não permitiu os gentios receberem
sozinhos o Espírito da aliança abraâmica porque assim surgiriam duas igrejas
primitivas. Como só existe uma aliança feita com Abraão, na qual Deus promete
dar do seu Espírito a todas as nações, todos os gentios eleitos teriam que
entrar pela mesma porta: os apóstolos judeus. A aliança é judaica, feita com
Israel desde muito tempo atrás; Deus não criou outra aliança com gentios, mas a
mesma aliança abraâmica é, agora, estendida ao mundo pagão. Essa é a razão por
que Felipe, (At 8: 4-25), após evangelizar os samaritanos, mesmo constatando
que eles já tinham fé em Cristo, ainda assim não pôde conferir-lhe o batismo
com o Espírito Santo. Neste caso, a expressão “batismo com Espírito Santo” ou
“descida do Espírito Santo” aqui nada tem a ver com fé. Os discípulos convertidos pela pregação de
Felipe eram crentes genuínos, pois foram batizados no nome de Jesus (Lucas usa
a palavra “somente” porque era incomum o batismo em nome de Jesus
desacompanhado do batismo com o Espírito Santo). O batismo com o Espírito Santo
dos samaritanos significava simplesmente “confirmação visível da entrada dos
samaritanos na aliança abraâmica”. Isso eles tiveram que receber dos apóstolos,
pois os samaritanos já se consideravam um outro povo pactual de Iavé. Como os
apóstolos possuíam apostolicidade dada no momento em que foram batizados com o
Espírito Santo, eles representavam a aliança abraâmica estendida aos gentios; mesmo que os
samaritanos não fossem gentios, ainda assim eram considerados estrangeiros à
promessa. A demora em receber o batismo não foi condicionada a nenhum requisito
espiritual que faltava aos crentes samaritanos, mas ao cumprimento histórico do
derramamento do Espírito para formar
todos os povos (pagãos e judeus) em um único povo. Certamente se os
samaritanos tivessem recebido “o batismo” do Espírito Santo sem os apóstolos,
teriam se tornado mais uma igreja primitiva samaritana rival da igreja cristã
apostólica.
A
verdade sobre o batismo com o Espírito Santo requer ser compreendida em duas
dimensões de significados: no sentido mais estrito ele significa introduzir
pecadores no corpo de Cristo e consequentemente na aliança da graça; no seu
sentido mais amplo tal batismo está relacionado com o credenciamento apostólico
e com a sinalização histórica da entrada dos gentios e samaritanos no pacto da
graça outrora feito apenas com o povo de Israel. Assim, para uma melhor
compreensão, o tema deve ser abordado em duas grandes seções:
I. O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO PARA DESCRENTES
A primeira promessa de João Batista do batismo com o
Espírito Santo é feita para os filhos perdidos da casa de Israel, que mesmo
sendo judeus haviam se desviado do verdadeiro evangelho, (Mt 3:7-12).
Essa promessa também é feita por Pedro aos descrentes em
seu primeiro sermão evangelístico logo após o evento de pentecostes, no qual
ele convida os incrédulos judeus ao arrependimento para receberem “o dom” do
Espírito Santo, interpretado pelo próprio Pedro como Batismo com o Espírito
Santo,( At 11:15-18). Veja também a interpretação do apóstolo João sobre o
Batismo com o Espírito Santo e sua relação com a fé, (Jô 7:37-39). O batismo é
entendido por todos estes escritores bíblicos como algo condicionado unicamente
à fé, e nada mais.
Paulo
também tem uma concepção de batismo com o Espírito Santo como uma necessidade
essencial para os gentios incrédulos entrarem pela fé no corpo de Cristo. Em
Atos 19:1-7, ao perguntar se os discípulos de Éfeso tinham recebido o Espírito
Santo “quando creram”, o apóstolo
entendia que a fé era o único elemento autenticador do Batismo com o Espírito
Santo, bem como sua condição. A ausência do Espírito coincidia com a ausência
de fé. Essa teologia é confirmada por Pedro em Atos 11:17, pela expressão
petrina “quando cremos no senhor”, quando trata da conversão de um gentio.
Em
que sentido, pois, os não crentes são batizados com o Espírito Santo? A
resposta a esta pergunta é: em seu sentido ordinário e permanente.
Esse
sentido de confirmar a entrada de pecadores na aliança feita com judeus ainda é
válido nos nossos dias. Quando uma pessoa ouve o evangelho e se arrepende em
fé, ela é introduzida no corpo de Cristo, (I Co 12:13); recebe o Espírito
prometido a Abraão, ou batismo com o Espírito Santo, (Gl 3:14), tornando-se
participante da mesma aliança feita com judeus, (At 11:18). Assim o zambujeiro
é enxertado na oliveira boa. Receber o Espírito hoje é confirmado pelos frutos
de arrependimento e fé. O batismo com o
Espírito Santo é o meio que Deus determinou introduzir os filhos da promessa no
pacto da graça, (I Co 12:13). Portanto quando usamos a expressão “batismo com o
Espírito Santo” estamos falando da nossa regeneração e conversão a Cristo.
Entende-se
por esses registros bíblicos que o batismo com o Espírito Santo era necessidade
vital para judeus e gentios incrédulos entrarem no corpo de Cristo por meio da
fé. Isso significa que fé e batismo com Espírito Santo coincidem-se e
confirmam-se mutuamente. Nesse primeiro momento a função do batismo com o
Espírito Santo é introduzir espiritualmente pela fé pecadores no corpo de
Cristo, (I Co 12:13), da mesma forma como o batismo com água introduz
visivelmente incrédulos na igreja visível.
II.
O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO PARA
CRENTES
O batismo com o Espírito Santo não foi uma realidade
prometida somente para os incrédulos. Jesus prometeu o batismo com o Espírito
Santo aos seus apóstolos, os quais já eram crentes, (cf Lc 24:49- At 1:2-5). O batismo com Espírito Santo prometido
foi experimentado pelos samaritanos que também já eram crentes, (At 8:12-13). É
claro que a função do batismo com o Espírito Santo para os crentes não era a de
introduzi-los no corpo de Cristo pela fé, pois isso já tinha acontecido quando
creram. Em que sentido, pois, os apóstolos e os discípulos crentes foram
batizados com o Espírito Santo? A essa pergunta podemos responder: em seu
sentido extraordinário e temporal, que
são:
1) O sentido de
conferir apostolicidade aos apóstolos.
Nesse
sentido Cristo prometeu “poder do alto” aos apóstolos, e não conversão, pois
eles já eram crentes. Essa idéia é registrada por Lucas, (Lc 24:49) e
confirmada por ele como Batismo com o Espírito Santo, (At 1:2-5). No desenrolar da história da igreja em Atos,
podemos perceber que os apóstolos e os evangelistas que estavam com eles
detinham “poder” para realizar prodígios, (At 8:4-8), mas somente os apóstolos
detinham apostolicidade para “ dar o Espírito Santo” tanto a judeus quanto
gentios, quer fossem crentes ou incrédulos, (At
8:14,15-18). É notável que depois do evento de pentecostes não existe nenhum episódio de
recepção do batismo com o Espírito Santo sem que seja por intermédio dos
apóstolos. Os apóstolos eram o canal inicial pelo qual o Espírito tinha que
fluir para judeus e gentios. Como fundamento da igreja e depositários da fé da
nova aliança, os apóstolos eram o recipiente do batismo com o Espírito Santo
que deveriam fundar a igreja de Cristo. Essa apostolicidade pode ser percebida
nas credenciais que Paulo reclama para si por meio de sinais, prodígios e
poderes (o que faz lembrar as palavras de Jesus “poder do alto”), (II Co 12:12).
O
sentido de apostolicidade não é mais contemplado hoje em dia pela igreja de
Cristo. Constitui, pois, um massivo erro o tentar considerar o batismo com o
Espírito Santo hoje como “um enchimento de poder”, credencial apostólica
prometida somente aos apóstolos, (At 1:2-4).
2.
O sentido de validação do chamado histórico dos gentios à aliança abraâmica por
meios visíveis das línguas e profecia.
É
bem verdade que para que haja inauguração de aliança é necessário que ela seja
confirmada. Quando deus inaugurou a nova aliança entre os homens ele começou
com os judeus, antigo povo da aliança abraâmica. Dentro dos planos divinos,
aprouve a Deus iniciar a nova aliança com judeus e depois estendê-la aos
gentios. Se Deus tivesse simplesmente pulado da antiga aliança com os judeus
para uma nova aliança com os gentios, os judeus jamais reconheceriam a aliança
gentílica como válida. Era necessário, pois, que as cláusulas confirmadoras da
aliança judaica fossem as mesmas da aliança gentílica; do contrário não haveria
provas de que a aliança com Abraão era a mesma oferecida ao gentios. Para isso
Deus programou um plano cronológico de pregação do evangelho para validar a
nova aliança no meio de dois povos diferentes.
Primeiro enviou João
Batista e Jesus para inaugurar a nova aliança somente com a casa de Israel;
certamente os judeus deveriam experimentar a mesma realidade da nova aliança
que os gentios experimentariam mais tarde com os apóstolos. O fruto do trabalho de Jesus foram apenas
doze apóstolos e poucos discípulos. Jesus diz aos apóstolos que o Espírito
Santo continuaria a mesma obra que Jesus havia começado, e que não faria nada
diferente do que já estava posto por ele, (Jo 16:13-15). Os apóstolos apenas
dariam continuidade à obra que Jesus começou (pregação do reino) no poder do
Espírito Santo. É por essa razão que Deus deu o dom da apostolicidade: eles
foram os únicos escolhidos para fundar a igreja de Cristo a partir de dois
povos. Mas como provar para judeus e gentios que a aliança feita com gentios
era a mesma dos judeus? Como provar para judeus e gentios que o Espírito
prometido a Abraão era o mesmo que estava sendo dado a ambos os povos? A
reposta a estas perguntas é: por meio de línguas e profecia.
O batismo com o Espírito Santo e línguas
A esta altura já entendemos que a expressão “batismo com
Espírito Santo” coincide com fé. Onde há fé há o Espírito. Entendemos também
que o batismo com Espírito Santo tem mais de uma função na história do
cristianismo apostólico. É possível afirmar-se, com dados bíblicos, por
enquanto, que todos os que são batizados com o Espírito Santo necessariamente têm fé, mas ao mesmo tempo os
que têm fé não possuem os mesmos carismas operados pelo batismo com o Espírito
Santo, tendo em vista que Deus opera funções múltiplas ao dar o seu Espírito
aos crentes. Vejamos a relação das línguas com o Batismo com o Espírito Santo.
Existem apenas três episódios de línguas relacionados com
o Batismo com o Espírito Santo. É incorreto considerar as línguas como evidência
de tal batismo tendo em vista que os samaritanos não falaram em línguas (os
samaritanos não são gentios; adotavam o Velho Testamento como Escrituras
deles). Nesse caso, se as línguas fossem evidência do Espírito prometido a
Abraão, os samaritanos continuariam sendo rechaçados pelos judeus, pois não
possuíam a evidência do acolhimento no pacto abraãmico. Paulo não ensina em
lugar nenhum que línguas é evidência do batismo, e considera que nem todos
possuiriam as línguas, (I Co 12:29-31). Outra peculiaridade das línguas em Atos
é que elas só ocorrem na presença de gentios e judeus. Isso se dá pelo fato das
línguas corresponderem a um sinal de inclusão dos gentios na aliança abraâmica.
Durante três mil e oitocentos anos o evangelho só era conhecido na língua de
Israel; por todo esse tempo Deus não houvera se revelado em nenhuma outra
língua no mundo. Esse era o sinal de que a aliança abraâmica, por enquanto, só
contemplava judeus, (Rm 9:1-5). O evangelho só veio a ser universalizado a
partir de pentecostes, quando idiomas gentílicos (dialekto) foram contemplados
com a palavra inspirada (profecia) que até então o Espírito de Deus só dava à
aliança feita com Israel. Com a universalização do evangelho todas as cláusulas
da antiga aliança deveriam ser entregues nas línguas dos gentios, como o
Espírito fazia no Antigo Testamento, (“assim diz o Senhor”). Essa mesma fórmula
é encontrada no dia de Pentecostes, quando Lucas escreve “passaram a falar
noutras línguas conforme o Espírito lhes
concedia que falassem”. Os gentios agora tinham os oráculos de Deus em suas
próprias línguas. Israel tinha perdido o monopólio da revelação. Deus agora se
revela aos gentios em suas línguas.
Quando o batismo com o Espírito Santo ocorre acompanhado
de línguas no Novo Testamento representa duas verdades novas agora para os dias
na nova aliança: primeiro é que pelo batismo os gentios estão entrando na
aliança abraâmica; segundo é que as línguas confirmam que a revelação agora é
compartilhada com outras nações – o evangelho não pertence mais a Israel. Deus
está tão interessado em outros povos que o Espírito dá a revelação em outras
línguas. Essa é a razão porque em um livro tão vasto de história da igreja as
línguas acontecem tão pouco. O propósito das línguas então era apenas o de confirmar
visivelmente a entrada dos gentios na nova aliança. Quando os judeus vissem
gentios em variedade de línguas falando “as grandezas de Deus”, que outrora só
pertenciam a Israel, logo ficariam convencidos de que “também aos gentios foi
por Deus concedido o arrependimento para a vida”, (At 11:18). Essa confirmação
por meio de línguas não era apenas para judeus; todos os gentios deveriam
descansar na evidência das línguas que Deus não tem mais uma única nação
contemplada como seu povo. As línguas confirmam que o batismo com o Espírito
Santo é a entrada de todas as nações no pacto da Graça. As línguas constituem, assim, um sinal de
bênção para os gentios, mas ao mesmo tempo um sinal de maldição para Israel,
pois esse antigo povo do pacto perdeu o direito de povo exclusivo da aliança.
Uma peculiaridade que ainda devemos levantar sobre as
línguas é que sendo o seu nome “variedade de línguas”, (I Co 12:10), no livro
de Atos não há interpretação das mesmas, enquanto que na igreja de Corinto era
proibido o uso de línguas sem interpretação, (I Co 14:28). A pergunta que
normalmente é feita é por que em Atos a línguas funcionam sem interpretação e
em Corinto tem que haver intérprete. A resposta é que fora a igreja as línguas
constituem um divisor de águas. No dia de Pentecostes as línguas não foram
entendidas por todos; alguns acharam que os discípulos estavam bêbados, ou
seja, não entendiam as línguas faladas por eles. Quando as línguas não são
entendidas é porque tais pessoas estão sendo preteridas (rejeitadas) pela
graça. Jesus deixou muito claro que o fato das pessoas não entender suas
parábolas era porque “...a estes não é dado conhecer os mistérios do reino”.
(Mt 13:11). Essa é a natureza primária do dom de línguas: sinal para os
incrédulos, (I Co 14:22). Paulo
refere-se ao cativeiro dos judeus incrédulos no Antigo Testamento, que foram
arrastados à prisão por um povo de “língua estranha”, e usa esse exemplo
histórico como princípio para falar da natureza das línguas não interpretadas.
Isso significa que o uso de línguas sem interpretação é o mesmo que maldição
para os que ouvem, pois ouvir sem entender é ser rejeitado pela graça. Como a
igreja é a reunião dos escolhidos, seria uma contradição o uso de um dom que
sinalizava a condenação da própria igreja. Línguas como sinal de maldição para
incrédulos não deveria ser usado na igreja, a não ser que fossem interpretadas
e transformadas em ensino, profecia, revelação, ou conhecimento, (I Co 14;6).
O
Batismo com o Espírito Santo e profecia
A profecia só é encontrada explicitamente relacionada ao
batismo com o Espírito Santo em Atos 19:1-5. Podemos deduzir léxicamente que em
Atos 2:4 a idéia de profecia também está presente na expressão “conforme o
Espírito concedia que falassem”. Este último verbo “falar” é a tradução da
palavra grega “falar inspirado”, o que indubitavelmente corresponderia à profecia; o que os
discípulos falaram em outras línguas era exatamente aquilo que o Espírito falava.
Somente em Atos 10:46 não há nenhuma indicação clara de profecia acompanhando o
batismo com o Espírito Santo; encontramos apenas a vaga expressão de que eles
engrandeciam a Deus. Mas à luz dos outros textos acima citados, e levando-se em
conta que Cornélio era gentio, podemos supor que ali também aconteceu um
fenômeno profético. Por que então o batismo com o Espírito Santo era
acompanhado de profecia? A resposta a esta pergunta tem a ver também com a
resposta dada às línguas: a profecia era elemento de confirmação de que a
aliança inaugurada entre os gentios tinha o mesmo valor da antiga aliança
abraâmica inaugurada com judeus. O apóstolo Paulo reconhece que a revelação da
glória, das alianças, da legislação, do culto e das promessas só foi dada a
Israel; nenhum povo além de Israel recebeu qualquer luz da revelação divina
enformada dentro de um pacto. Incrivelmente o contrário estava acontecendo em
Pentecostes: uma aliança é inaugurada com povos que não eram povo de Deus. Como
seria possível provar para judeus e gentios que aquela aliança era genuína como
foi com os filhos de Abraão no Antigo Testamento? Tal aliança só seria levada
em conta se os apóstolos, judeus e gentios pudessem ver Deus se revelando aos
gentios por meio da profecia, pois profecia era o canal de comunicação das
cláusulas de todas as alianças que Deus já fez com o homem. É exatamente isto
que aconteceu com Pedro, o apóstolo que tinha dúvida da validade da aliança com
os gentios. Pedro tinha dificuldade em acreditar que Deus tinha chamado gentios
à aliança abraâmica. Somente depois de constatar que Cornélio (gentio)
participou do mesmo fenômeno profético de Pentecoste, foi que ele afirmou: “...quem era eu para que pudesse resistir a Deus”,(At
11;15-18). Portanto, para um judeu, o falar profeticamente constitui elemento
pactual conhecido apenas de Israel. Se a nova aliança feita com gentios contém
os mesmos elementos pactuais que antes foram dados apenas a Israel, isso é
sinal de que Deus ampliou, de fato, sua graça. Ninguém pode negar. Essa é a
razão pela qual na inauguração da nova aliança a profecia foi dada em línguas
gentílicas, (At 2) e os gentios profetizaram, (At 10 e 19). A prova
incontestável para o mundo inteiro de que Deus expandiu sua graça de Israel
para todas as nações é que os gentios experimentaram daquilo que era privilégio
apenas da nação judaica. As línguas e a profecia estão registradas acompanhando
o batismo com o Espírito Santo para provar que a entrada para o céu não
pertence mais a um povinho do oriente médio, e sim que a graça de Deus agora é
sem fronteira.
3.O
sentido de introduzir os samaritanos na aliança abraâmica
De todas as ocorrências do Batismo com o Espírito Santo o
caso dos samaritanos é a mais distinta. O primeiro problema com os samaritanos
é que o Batismo com o Espírito Santo em Samaria não significou credenciamento
apostólico, nem confirmação de inclusão gentílica no pacto abraâmico, nem mesmo conversão. Os samaritanos creram no
evangelho, receberam o Espírito regenerador, mas tiveram que esperar pelos
apóstolos para serem batizados com o Espírito Santo no sentido de serem
introduzidos historicamente no pacto abraâmico. Curiosamente os samaritanos não
falaram línguas e nem profetizaram porque eles não eram gentios, apenas
estrangeiros. Como vimos anteriormente, línguas e profecia acompanham
historicamente o batismo com o Espírito Santo apenas dos gentios nos únicos
casos de Atos 2, 10, e 19.
Alguns
sugerem que o sinal visível do batismo com o Espírito Santo entre os
samaritanos, (Atos 8), teria sido o fenômeno das línguas ou profecia. Essa
idéia deve ser rejeitada por dois motivos: quanto à línguas não pode ser porque os samaritanos não são gentios, mas
judeus mistos (II Rs 17:24-41), que continuaram com práticas judaicas
misturadas a crendices pagãs. Durante toda a história eles aparecem
reivindicando sangue judeu, e a aliança abraâmica ainda foi lembrada por Deus
em favor deles. Já no Novo Testamento eles receberam de Jesus a mesma atenção e
tratamento dado aos judeus, inclusive estendendo seu ministério entre os
samaritanos, (Lc 10:29-37; 17:16-18; Jô 4:1-42); o mesmo não aconteceu aos gentios, (Mt 15:21-28), pois
esses só tiveram contato com o evangelho depois da confirmação da aliança
abraâmica no dia de Pentecostes. Jesus
não considerou os samaritanos como gentios, pois os usou como exemplo para os
judeus, (Lc 10:29-37), e os chamou de “estrangeiros”, (Lc 17:18), e não de
cachorrinhos. Quanto à profecia é impossível porque os samaritanos dos tempos
de Jesus não diferiam dos judeus quanto aos grandes temas teológicos dos
israelitas, identificando-se especialmente com os saduceus. Eles esperavam o
Messias, (Jo 4:25) e possuíam o Pentateuco Samaritano; a única diferença era
que eles não partilhavam dos escritos proféticos. Sendo assim, o batismo com o
Espírito Santo não precisaria confirmar que Deus estava dando aos samaritanos
suas verdades reveladas que dera aos judeus, pois eles já possuíam desde há
muito tempo.
Como,
pois, confirmar a entrada de um povo que não é gentio na aliança abraâmica? A
resposta é que ninguém sabe qual foi o elemento visível comprobatório de que
eles foram batizados com o Espírito Santo a ponto de ser notado por todos os
que estavam ali naquele dia. A verdade é que Deus usou um outro sinal visível
que sinalizou para judeus e samaritanos que o pacto abraâmico foi estendido a
eles também. Isso torna a entrada dos samaritanos no pacto distintamente dos
gentios.
CONCLUSÃO
O batismo com o Espírito Santo para crentes não existe mais. A função do batismo com o Espírito Santo que vá além de introduzir incrédulos pela fé no pacto da graça não cabe no cenário eclesiástico moderno. O batismo com o Espírito Santo de pessoas crentes foi um marco na história da redenção e do cristianismo apostólico que tinha em vista registrar na Palavra de Deus a verdade de que a promessa abraâmica foi cumprida, e que hoje todos os povos são bem vindos à graça de Deus.
O batismo com o Espírito Santo para crentes não existe mais. A função do batismo com o Espírito Santo que vá além de introduzir incrédulos pela fé no pacto da graça não cabe no cenário eclesiástico moderno. O batismo com o Espírito Santo de pessoas crentes foi um marco na história da redenção e do cristianismo apostólico que tinha em vista registrar na Palavra de Deus a verdade de que a promessa abraâmica foi cumprida, e que hoje todos os povos são bem vindos à graça de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário